A relação entre causa, efeito e lei cármica é extremamente complexa e difícil de ser compreendida. Apesar disso, ela mostra uma ordem básica que pode ser entendida pelos seres humanos. É muito importante ter alguma compreensão a respeito dessa ordem básica, porque, sem isso, as pessoas, frequentemente, tendem a cair na crença de que o carma não existe. Sem uma ideia clara sobre a ordem em que o carma chega, é fácil ver “boas pessoas sofrendo morte penosa e pessoas más desfrutando condições muito agradáveis” e daí concluir que não há justiça no mundo e que algo como o carma não pode existir.
Na verdade, o carma chega em uma ordem mais ou menos definida, que podemos distinguir em três níveis: o primeiro nível é o do carma que é gerado nesta vida e chega nesta vida; o segundo é o do carma gerado nesta vida, mas chega na próxima; o terceiro é o carma gerado nesta vida que chega em alguma vida depois da próxima. Esses diferentes níveis podem ser comparados a diferentes tipos de plantas. Há sementes que, se plantadas na primavera, darão frutos no outono; outras podem demorar um ano ou mais para frutificar. Algumas árvores levam anos para dar fruto.
As razões pelas quais o carma pode chegar em diferentes vidas são duas:
a causa do carma pode ser de geração lenta ou rápida;
as condições do carma podem ser fracas ou fortes.
As causas cármicas podem ser de geração lenta ou rápida, assim como há plantas que demoram muito ou pouco para frutificar. As condições podem ser fortes ou fracas, assim como o ambiente da semente. Se uma semente rápida receber boa luminosidade e água suficiente, crescerá muito depressa. Já uma semente lenta mantida no escuro talvez demore anos para brotar.
É por isso que muitas vezes vemos pessoas boas sofrerem horrivelmente. Nesta vida, elas têm sido boas, mas o carma de vidas passadas é forte e tem de frutificar. As causas que estão sendo plantadas hoje são extremamente importantes; contudo, ninguém consegue escapar de colher o que foi plantado no passado.
Da mesma forma, é comum ver pessoas más usufruindo os prazeres de uma vida bastante agradável. As sementes que estão plantando hoje lhes trará sofrimento no futuro; antes de chegar esse dia, porém, estão recebendo os resultados de boas ações que praticaram em uma vida passada.
O carma obedece a dois princípios fundamentais:
todas as sementes cármicas um dia darão fruto;
mau carma não pode ser transformado em bom carma.
O bom carma gera resultados positivos, e o mau carma produz resultados negativos. Apesar de ser impossível transformar mau carma em bom carma, é importante compreender que seus efeitos podem ser diluídos. Se praticarmos boas ações em grande quantidade, seus efeitos vão diluir nosso mau carma, tornando-o mais suportável. Assim como a água salgada pode ser diluída com água-doce para que seu sabor fique mais palatável, os efeitos do mau carma podem ser atenuados adicionando-se a ele os efeitos de muitas boas ações praticadas.
Discutimos alguns aspectos básicos da lei do carma. Além deles, outros três fatores determinam a ordem e o rumo do carma:
sua gravidade;
nossos hábitos;
nossos pensamentos.
O carma muito sério, bom ou mau, chega antes do menos sério. Nossos hábitos são como sulcos que determinam os rumos da nossa vida. Os hábitos adotados nesta vida exercem poderosa influência na definição do tipo e da qualidade da próxima vida.
Nossos pensamentos estão constantemente criando e recriando nossa vida. Os pensamentos levam a vida a fluir em diferentes direções em diferentes momentos. O mutante curso dos pensamentos às vezes se altera sem motivo. Somos como alguém que sai para dar uma volta a pé. Apesar de andarmos sem destino predeterminado, precisamos decidir que rumo tomar a cada esquina. O curso dos pensamentos pode ter uma influência sutil, mas ampla, na vida. Um simples pensamento pode nos levar ao inferno ou nos aproximar do Buda.
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