sábado, 29 de novembro de 2014

"Prática Preliminar Comum" Parte IV


Nós, temerários e duros de coração, a despeito de termos visto tantos sofrimentos ligados ao nascimento, ao envelhecimento, à doença e à morte,
Ainda assim consumimos no caminho da dissipação nossa vida humana, uma vida dotada de liberdade e abençoada pela oportunidade.
Dai vossa benção, para que nos recordemos continuamente da impermanência e da morte!

Porque não admitimos que as coisas impermanentes são inconsistentes, 
Permanecemos até agora apegados, aferrados a este ciclo de existência.
Ansiando pela felicidade, passamos nossa vida humana em sofrimento.
Dai vossa benção, para que o apego à existência cíclica se converta em seu contrário!

Nosso ambiente impermanente será destruído pelo fogo e pela água,
Os seres sencientes impermanentes deste mundo sofrerão a separação de corpo e mente.
As estações do ano: primavera, verão, outono e inverno nos dão exemplo da impermanência.
Dai vossa benção, para que o desengano surja das profundezas de nosso corações.

Ano passado, ano novo, lua cheia, lua nova,
Dias e noites indivisíveis instantes, todos são impermanentes.
Se refletirmos atentamente, perceberemos que também nós estamos face a face com a morte.
Dai vossa benção, para que nos tornemos resolutos em vossa prática!

Embora este corpo dotado de liberdade e abençoado com as oportunidades seja raríssimo de se encontrar,
Quando se aproximar o Senhor da Morte na imagem da doença,
Como estarão carecidos de compaixão os que, por não terem recebido os ensinamentos sagrados,
Retornarem desta vida com as mãos vazias!
Dai vossa benção para que o sentido da urgência cresça em nossa mente!




"Prática Preliminar Comum" Parte III


Como carecem de vossa compaixão os seres vivos, torturados que estão por suas ações passadas,
Que se afogam neste abismo profundo, o oceano insaciável de suas ações passadas!
Tal é a natureza da instável existência cíclica!
Dai vossa benção ó mestre espiritual, para fazer secar esse oceano de sofrimento!

Como carecem de vossa compaixão os inábeis, 
Os que são torturados pela ignorância e pelas ações passadas,
Os que se entregam a ações que conduzem ao sofrimento,
Muito embora desejem a felicidade!
Dai vossa benção ó mestre espiritual, para que o obscurecimento dos estados mentais dissonantes e das ações passadas seja purificado!

Como carecem de vossa compaixão os ignorantes e os iludidos, 
Presos nesta masmorra de apegos egoístas e dicotomias entre sujeito e objeto,
Os que, como o gamo selvagem, caem vezes sem conta nessa armadilha!
Dai vossa benção ó mestre espiritual, para que a existência cíclica seja abalada até suas profundezas!

Como carecem de vossa compaixão os seres que incessantemente volteiam no ciclo das existências,
Como se girassem perpetuamente na circunferência de uma roda-d'água,
Nesta cidade de seis dimensões dos grilhões das ações passadas!
Dai vossa benção ó mestre espiritual, para que se torne estéril o ventre que dá à luz as seis classes de existência!

"Prática Preliminar Comum" Parte II


Os momentos de tua vida não são dispensáveis,
E as possíveis circunstâncias da morte estão além de tua imaginação.
Se não alcançares agora uma confiança segura e impávida, 
De que te serve estar vivo, ó vivente?

Todos os fenômenos são naturalmente incriados.
Não permanecem nem cessam, não vêm nem vão.
Não têm referentes objetivos nem marcas distintas; são inefáveis e livres de pensamentos.
É chegada a hora de compreender essa verdade!

"Prática Preliminar Comum" Parte I


Ai! Ai! Ó Filho Feliz da Natureza de Buda,
Não te sintas oprimido pelas forças da ignorância e da ilusão!
Ergue-te agora com determinação e valentia!
Desde eras sem princípio até agora, estiveste enfeitiçado pela ignorância,
Tiveste tempo bastante para dormir.
Por isso não cochiles mais; antes, busca a virtude com o corpo, a fala e a mente!
Acaso esqueceste dos sofrimentos no nascimento, velhice, doença e morte?
A ti não se pode garantir continuidade da vida, nem mesmo por um dia se quer!
Chegou-te o tempo de criar perseverança na tua prática.
Pois, nesta oportunidade singular, podes atingir a beatitude eterna.
Assim é certo que, este não é o momento para a ociosidade.
O momento é para que, começando com a reflexão sobre a morte, conduzas a bom termo tua prática.

"Como dar vida às nossas vidas"

As Transformações Começam Conosco

Há um antigo ditado japonês:
"Se houver relacionamento, faço; se não houver relacionamento, saio".
Um Mestre Zen, no final do século passado, fez a seguinte alteração:
"Havendo relacionamento, faço; não havendo, crio relacionamento".

Essa mudança de paradigma é extremamente importante. Devemos também lembrar que criar um relacionamento não significa, necessariamente, obter resultados imediatos, embora muitas vezes estes ocorram.
Novos relacionamentos em padrões antigos perdem seu significado. Precisamos criar relacionamentos a partir de novas maneiras de nos relacionar, de ver o mundo, de ser, de inter ser. Essa nova maneira pode, inclusive, recarregar de energia positiva antigos relacionamentos.
Para descobrirmos novas maneiras precisamos, primeiramente desenvolver a capacidade de perceber como estão nossos relacionamentos atuais.
Observe e considere meticulosamente a si mesmo. Perceba como está se relacionando em casa, na rua, no trabalho, no lazer. Perceba como respira, como anda, como toca nos objetos, como usa sua voz, como são seus gestos e como são seus pensamentos e os não pensamentos. Esse observar não deve ser limitante, constrangedor, confinador. Apenas observe. Como você se relaciona com o meio ambiente, biodiversidade, reciclagem, justiça social, melhor qualidade de vida, guerras, violência, terror, paz, harmonia, respeito, garantia dos Direitos Humanos? Como você e o seu logos se relacionam entre si e em relação aos projetos de sucesso, de lucro, de desenvolvimento e progresso de sua organização?

Como está se relacionando com o mais íntimo de si mesmo, com a essência da Vida, com o Sagrado?

Será que é capaz de ver, ouvir, sentir e perceber a rede de inter relacionamentos de que é feita a vida? Percebe e leva em consideração, na tomada de decisões, a interdependência?

Tanto individualmente, como no coletivo, nossa participação e compreensão como estão? Será que estamos conscientemente vivendo nossas vidas e direcionando nossos pensamentos, ações e palavras para o sentido de mudança que queremos e sonhamos?

Mahatma Gandhi disse: "Temos de ser a transformação que queremos no mundo".

Geralmente pensamos no mundo como alguma coisa distante e separada de nós, mas nós somos a vida do universo em constante movimento. Podemos até dizer que o mundo somos nós. Nossa vida forma o mundo, é o mundo, não apenas está no mundo. Inclui todas as formas de vida e seus derivados e nos inclui neste instante, instante após instante. Há um monge chinês do século VII, Gensha Shibi , que dizia : "O Universo é uma jóia arredondada. Somos a vida desse universo em constante transformação. Nada vem de fora, nada sai para fora".

De momento a momento tudo está mudando, nós fazemos parte dessa mudança e podemos escolher, discernir qual o caminho que queremos dar a esse constante transformar. É por isso que digo que a transformação começa em nós. Na verdade vai além de apenas começar. É em nós. Nossa capacidade humana de inteligência e compreensão nos permite fazer escolhas. E o que estamos escolhendo?

Outra frase de Mahatma Gandhi:
"Quando uma pessoa dá um passo em direção à Paz, toda a humanidade avança um passo em direção à Paz"

A minha decisão, a sua decisão pode transformar ou influenciar a direção da mudança.
Há um sutra budista que descreve o mundo como uma rede de inter relacionamentos. Como se fosse uma imensa teia de raios luminosos e em cada intersecção uma jóia capaz de receber essa luz e emitir raios em todas as direções. Qualquer pequena mudança afeta o todo. Cada ser que se transforme em um ser de paz, de harmonia, de ternura, carinho e respeito pela vida em todas as suas formas estará sendo uma mudança viva e influenciando tudo e todos.

Qual o primeiro passo? Conhecer a si mesmo. Conhecer nossos mecanismos.

O que nos afeta, nos incomoda? O que nos alegra? O que nos irrita? Como transformar a raiva em compaixão? Como transformar o desafio em competição leal, justa, empreendedora, enriquecedora? Sem nos preocuparmos com os créditos, se formos capazes de fazer o bem, não fazer o mal, fazer o bem aos outros estaremos transformando nossos lares, nossas amizades, nosso ambiente de trabalho, nossas organizações, nossas cidades, estados, países, nações, mundo... e a nós mesmos...no florescimento da Cultura da Paz.

"Estudar o Caminho de Buda é estudar a si mesmo. Estudar a si mesmo é esquecer-se de si mesmo. Esquecer-se de si mesmo é ser iluminado por tudo que existe. Transcender corpo e mente seu e dos outros. Nenhum traço de iluminação permanece e a Iluminação é colocada à disposição de todos os seres." (Mestre Zen Eihei Dogen - 1200-1253)

É importantíssimo que iniciemos este "estudar a si mesmo", já. Cada um de nós que perceber seu próprio mecanismo ficará em controle desse mecanismo e não mais à mercê de seus sentimentos e emoções, desejos e frustrações, puxado, empurrado, espremido e puxando, empurrando, espremendo - envenenados pela ganância, raiva e ignorância.
Imagine um mundo aonde podemos brilhar uns para os outros, sem ódios, mas com carinhoso respeito e terna compreensão. Percebendo nossas diferenças, aceitando a diversidade da vida e juntando nossas capacidades tanto intelectuais como físicas na construção desse verdadeiro Céu, Paraíso, Terra Pura, Shambala de que falam as religiões, todas elas.
Cabe a nós, a cada um de nós criar esse relacionamento de carinho com a vida, de ternura com todos os seres, de compreensão, de sabedoria e compaixão para percebermos o Caminho Iluminado e o Nirvana permeando toda a existência.
Isso é dar vida à nossa própria vida.

Monja Coen

terça-feira, 25 de novembro de 2014

"Quatro Pensamentos para a Vida Diária"



Devoção Real (Roseikon)

Devotar-se completamente e sinceramente não é tão fácil como parece. No Eihei-koroku, Dogen Zenji diz que concentrar todo o ser na mente e corpo em todas as atividades é supremamente importante. Em outras palavras, dar-se de mente e corpo a qualquer coisa que faça - acordar, lavar-se, tomar o café da manhã, ir ao trabalho, encontrar com pessoas para falar de trabalho, tomar chá e assim por diante.

Nenhum Mérito (Mukudoku)

Bodhidarma, ainda venerado no Japão atual sob o nome de Daruma-daishi, introduziu o Budismo Zen na China nos princípios do sexto século, durante o reinado do iImperador Wu da dinastia Liang. Por causa do seu interesse, o Imperador orgulhosamente trabalhou para promover o Budismo e convidou Bodhidarma a permanecer com ele. Talvez contente com sua própria fé, o Imperador uma vez disse para Bodhidarma, "Construí todos estes templos Budistas, fiz com que todas as sutras fossem copiadas e treinei todos estes monges. que tipo de mérito consegui por todo este trabalho?"
Bodhidarma responteu bruscamente: "mérito algum!" Sem dúvida o Imperador, governante de toda uma nação sentiu-se desprezado.
Na verdade, Bodhidarma o estava admoestando para o fato de fazer coisas com o intuito de recompensa. O Zen nos adverte estritamente contra ter recompensas pelas ações. O espírito zen é agir sempre de uma perfeita maneira natural, descontraída e despojada.

Um Acerto em Cem Erros (Hyakufuto no Itto)

Os ensinos de Shakyamnui contém a doutrina dos quatro e oito sofrimentos (Shiku-hakku). Os Quatro são nascimento, Envelhecimento, doença e Morte. Os restantes quatro que juntos resultam em Oito são a separação do amado, associação com o indesejado, falha em atingir o desejado e o sofrimento psicossomático. O termo japonês shiku-hakku é frequentemente usado para expressar extrema dificuldade. Superar estes sofrimentos inevitáveis é um dos supremos objetivos do Budismo.
Sempre desejamos adquirir o que consideramos importante, desejável ou prazeroso, mas às vezes frustamo-nos na tentativa. Corredores não conseguem atingir a velocidade não importa o quanto pratiquem. Jogadores de beisebol manejam o taco cem vezes sem conseguirem o jeito que eles desejam. Às vezes, no entanto, no meio da prática, eles quebram a limitação e conseguem o perfeito movimento. Neste instante, rão liberados de todo o sofrimento causado pela falha de atingir o desejado.
A felicidade que eles experimentam nestas ocasiões é o resultado, não acidental, de dezenas e centenas de tentativas. Todos os esforços resultam em sucesso. Experimentam um Acerto em Cem Erros.

Olhando das alturas (Hyakushaku Kanto Shin Ippo)

Geralmente quando conseguimos atingir uma certa meta, queremos uma pausa nas alturas desfrutar a nossa satisfação. Mas devemos nos lembrar que, enquanto paramos, o rio do tempo flue sem parar. O Zen nos encoraja a prestarmos atenção ao constante fluir do tempo na forma da frase Hyakushaku Kanto Shin ippo, que significa literalmente dar um passo do topo de uma plataforma de bambú de cem pés. O Shobo-genzo Zuimonki nos diz:
"Estudante do Caminho, vamos ir de corpo e mente e entremos completamente no budha-darma. como um antigo ditado diz, "no topo de uma plataforma de cem pés, como avança um passo para a frente?" Em certa situação, pensamos que iremos morrer se sairmos da plataforma e por isso nos agarramos firmemente nele.
Dizer em 'avançar um passo a frente' significa o mesmo que decidir que não poderia ser tão mal e abandonar a vida corporal. Deveríamos parar de nos preocuparmos com tudo ,desde a arte de viver até a nossa própria vida.
A não ser que abandonemos estas coisas, será impossível atingirmos o Caminho, mesmo que pareça que estamos praticando diligentemente como se estivéssemos tentanto extinguir um fogo envolvendo nossas cabeças, Deixe o corpo e amente seguirem de uma maneira decidida.

"Zen-Budismo convida você a assumir a sua loucura. E transcendê-la."

A língua é o órgão menos adequado para expressar o significado do Zen. A barriga talvez seja mais apropriada. Alguns povos orientais, quando visitados pela primeira vez por um grupo de cientistas dos E.U.A. e sabendo que os norte-americanos pensavam com a cabeça, puseram-se logo a achar que eles eram loucos. E se explicaram: "É que nós, orientais, pensamos com o abdômen". As pessoas na China e no Japão, quando notam que alguém está com algum problema difícil, costumam dizer: "Pergunte à sua barriga, ela sabe a resposta".
Zen não escapa desta regra. Tentar compreender o Zen-Budismo intelectualmente é perder para sempre o seu significado. O intelecto serve a vários propósitos na vida diária, não há dúvida de que se trata de uma coisa utilíssima. Mas não resolve o problema crucial com que todos nós, cedo ou tarde, esbarramos em nossas vidas: o problema da vida e da morte, que diz respeito ao verdadeiro sentido da vida. Quem sou eu? Onde estão meu principio e fim no tempo e no espaço? Onde estava eu antes que meus pais nascerem? Para onde que vou depois que morrer?
Quando enfrentamos esse problema, o intelecto precisa confessar sua incapacidade de lidar com ele. O beco sem saída a que somos conduzidos não pode ser ultrapassado por uma manobra intelectual ou por um artifício da lógica. É necessária a totalidade do nosso ser. E é neste momento que o Zen surge como uma possibilidade, um caminho em direção á resposta do problema.
Portanto, tentar conhecer o Budismo Zen com o objetivo de ampliar nossa cultura geral é uma tolice semelhante a pedir a alguém que beba água em nosso lugar e esperar que a sede passe: o que nos descrevam o gosto de uma fruta ou a temperatura da água. Tudo isso depende da experiência pessoal, direta.
O Zen-Budismo é místico? Essa pergunta é muito freqüente, quando as pessoas ouvem falar do assunto pela primeira vez. O Misticismo é um ponto crucial, que faz com que os ocidentais falhem todas as vezes que tentam compreender a mente oriental. Por que o misticismo desafia a analise lógica, e esta é a característica fundamental do pensamento ocidental. O conceito ocidental de místico está sempre ligado ao fantástico, ao irracional, ao oculto. No oriente, misticismo não se refere a nada que não possa ser trazido para dentro da compreensão intelectual. Portanto, o Zen-Budismo é místico na medida em que o Sol brilha todas as manhãs, a lua surge todas as noites, e as flores deixam seu perfume na manga da nossa camisa, quando as tocamos de perto. Se isso é misticismo, então o Zen-Budismo é profundamente místico.
O Zen-Budismo é um sistema filosófico, intelectual? Não. O Zen-Budismo não é fundado na lógica ou na análise, é o contrário da lógica e do modo dualístico (ex. bom, mau - bonito, feio - vida, morte...) de pensar. Não existem no Zen, livros sagrados, dogmas ou quaisquer fórmulas através das quais se possa chegar ao seu significado. E o que o Zen-Budismo ensina? Nada. O Zen aponta o caminho, o resto é por nossa conta.
Zen é caótico, uma virtual negação de tudo, pelo menos se o virmos com a ótica racionalista da mente ocidental. Mas, por trás desta sucessão de negativas, o Zen-Budismo sustenta algo absolutamente positivo e eternamente afirmativo. Zen-Budismo é um estilo de vida e se propõe, por métodos práticos e diretos, a disciplinar a mente por si mesma, fazendo-a mergulhar em sua própria natureza. É um exercício que consiste em abrir o olho mental dos seus praticantes para que eles despertem do sono profundo da ignorância e vejam de perto a própria razão da existência. Só assim poderão contemplar o grande mistério que é representado diariamente.
O que é mente? É a verdadeira natureza de todos os seres, aquilo que existia antes que nossos pais tivessem nascido e antes do nosso próprio nascimento e que existe agora, imutável e eterna. Quando nascemos ela não é criada, e quando morremos ela não é destruída. Não tem nenhum tipo de distinção, nenhuma conotação de bom ou ruim. Não pode ser comparada a nada, e a chamamos Natureza de Buda. Muitos pensamentos surgem dela, como as ondas do oceano e as imagens num espelho. Quem deseja conhecer a própria mente deve, antes de tudo, olhar a própria fonte da qual surgem os pensamentos. O que é chamado Zazen não é mais do que olhar a natureza da mente. Aquele que conhece a própria mente é um Buda e livra-se para sempre dos sofrimentos que surgem da ignorância.

Este ensaio sobre o Zen-Budismo, texto extraído da Comunidade Zen de Curitiba.

"Os Três Tesouros"

Dogen Zenji assim ensina sobre os Três Tesouros:

“Os três tesouros, o Budha, o Dharma e a Sangha, são o refúgio do praticante. Tomamos refúgio em Buda porque é um grande mestre. Tomamos refúgio no Dharma porque é um bom remédio. Tomamos refúgio na Sangha porque são bons amigos. Somente quando tomamos refúgio nos três tesouros é que nos tornamos discípulos de Budha. O mérito de tomar refúgio em Budha, no Dharma e na Sangha inevitavelmente surgirá quando houver uma comunicação espiritual entre o praticante e o caminho. Quando há uma comunicação espiritual entre o praticante e o caminho, todos os seres, sejam eles celestiais, humanos, infernais, demônios famintos ou animais, também tomam refúgio. Aqueles que tomam refúgio, vida após vida, tempo após tempo, existência após existência, lugar após lugar, estarão sempre avançando e seguramente acumulando méritos, atingindo a completa e perfeita iluminação. Devemos perceber que o mérito dos três refúgios é o mais honrado, o mais elevado e o mais profundo que se pode conceber.”

"Discurso das 5 maneiras de acabar com a raiva"


Ouvi estas palavras do Buda quando ele estava certa vez no Mosteiro de Anathapindika, no Bosque de Jeta, perto da cidade de Shravasti.

Um dia o Venerável Shariputra dirigiu-se aos monges dizendo:
"Meus amigos, hoje quero compartilhar com vocês as cinco maneiras de acabar com a raiva. Por favor, ouçam com atenção e ponham em prática o que vou ensinar".
Os monges concordaram e ouviram atentamente. Então o Ve. Shariputra perguntou:
"Quais são as cinco maneiras de acabar com a raiva?"
"Esta é a primeira maneira de acabar com a raiva:
"Meus amigos, caso exista alguem cujas açoes corporais não são amáveis porém suas palavras são amáveis, se vcs vierem a sentir raiva dessa pessoa, sendo vcs sábios, saberão como meditar para acabar com a raiva".
"Meus amigos, digamos que existe um monge que pratica ascetismo e usa um manto feito de retalhos. Um dia, ao passar por um monte de lixo, cheio de excrementos, urina, catarro e muitas outras coisas sujas, avista no monte um pedaço de pano ainda intacto. Pega o pano com a mão esquerda e segura a outra extremidade com a mão direita para estendê-lo. Ele observa que o pedaço de pano não está rasgado, nem manchado pelos excrementos, urina,cuspe ou outras sujeiras. Então, dobrou-o e guardou-o a fim de levá-lo para casa, lavá-lo e costurá-lo no seu manto cheio de retalhos".
"Meus amigos se formos sábios, qdo as açoes corporais de uma pessoa não forem amáveis,mas suas palavras forem, não prestaremos atenção às suas açoes corporais indelicadas, ficaremos atentos somente às suas palavras amáveis. Este procedimento nos ajudará acabar com a raiva.
....
"Meus amigos, esta é a segunda maneira de acabar com a raiva:
"Se vcs ficarem com raiva de uma pessoa cujas palavras não são amáveis mas cujas ações corporais são bondosas, se forem sábios, saberão como meditar para acabar com a raiva"
"Meus amigos, digamos que não muito longe do vilarejo existe um lago profundo cuja superfície está coberta de algas e capim. Uma pessoa que está com muita sede e sentindo bastante calor se aproxima desse lago. tira a roupa, mergulha no lago e, com as mãos afasta as algas e o capim deleitando-se com o banho enquanto bebe a água fria do lago".
O mesmo acontece quando as palavras de uma pessoa não são amáveis mas suas ações corporais são bondosas. Não prestem atenção às palavras dessa pessoa. Estejam atentos somente às suas açoes corporais para conseguirem acabar com a raiva que estão sentindo. A pessoa sábia pratica dessa maneira.
........
"Meus amigos essa é a terceira maneira de acabar com a raiva:
"Se existir uma pessoa cujas palavras e ações corporais não são amáveis, mas que no coração tem um pouco de bondade, se sentirem raiva dessa pessoa mas forem sábios, vocês saberão como meditar para acabar com a raiva".
"Meus amigos, digamos que uma pessoa esteja indo para uma estrada. Ela é fraca, pobre, sente calor e sede e está cheia de tristezas. Ao chegar à estrada vê as pegadas de um búfalo contendo dentro dela um pouco de água da chuva estagnada. Ela pensa consigo mesma, "tem muito pouca água na pegada do búfalo.Se eu usar minha mão ou uma folha para apanhá-la vou fazer uma mistura lamacenta e impossível de beber. Portanto, vou me ajoelhar colocando meus braços e joelhos na terra, encostar meus lábios na água e sorvê-la diretamente. Logo em seguida ela fez exatamente isto.
Meus amigos, quando virem alguém cujas palavras e açoes corporais não são amáveis, mas em seu coração ainda existe um pouco de bondade, não prestem atenção às suas ações e palavras, mas ao pouco de bondade que está em seu coração de modo poderem acabar com a raiva. Aquele que é sábio pratica assim.
......
"Meus amigos, esta é a quarta maneira de se acabar com a raiva:
"Se houver uma pessoa cujas palavras e ações do corpo não são amáveis e em cujo coração não existe nada que se possa chamar de bondade, se ficarem com raiva dessa pessoa , mas sendo sábios, vocês saberão como meditar e acabar com a raiva.
"Meus amigos, suponhamos que alguém fica doente durante uma longa viagem. Ele está só, completamente exausto e não há um vilarejo por perto, sabendo que vai morrer antes de terminar a viagem. Se nesse momento chega uma pessoa que , diante da situação do homem, pega-o pela mão e leva-o para vilarejo mais próximo e ali cuida dele, trata sua doença e certifica-se que ele tem tudo que necessita, como roupa, remédio e alimento. Por causa dessa compaixão e bondade amorosa, a vida do homem está salva."
Assim sendo, meus amigos, quando virem alguem cujas palavras e ações do corpo não são amáveis e no coração dele nada tem que se possa chamar de bondade, deixe brotar esse pensamento:
Alguem cujas palavras e ações do corpo não são amáveis e no coração nada tem que se possa chamar de bondade, é alguém que está passando por um grande sofrimento. A não ser que encontre um amigo espiritual, não terá chance de se transformar e ir para o reino da felicidade.
Pensando assim, poderão abrir seus corações com amor e compaixão. Acabarão com a raiva e ajudarão essa criatura. Aquele que é sábio pratica assim".
......
"Meus amigos, esta é a quinta maneira de acabar com a raiva:
"Se houver alguém cujas palavras, ações corporais e a mente são amáveis, se ficarem com raiva dessa pessoa e forem sábios vocês saberão como meditar a fim de acabar com a raiva".
"Meus amigos suponhamos que não muito longe do vilarejo existe um lago muito bonito. A água é limpa e doce, o leito é tranquilo, as margens possuem uma exuberante relva e , ao redor de todo o lago, belas árvores oferecem sombra refrescante. Uma pessoa com sede, sofrendo com o calor e cujo corpo está coberto de suor, vem até o lago e tira a roupa, deixa-a na praia, mergulha na água e sente grande prazer e conforto ao beber e banhar-se na água límpida. Da mesma maneira, meus amigos, quando virem alguém cujas palavras e ações corporais são amáveis e cuja mente também é amável, prestem muita atenção a toda sua bondade de corpo, palavra e mente, não deixando que a raiva e a inveja os dominem. Se vocês não souberem viver com pessoa tão pura assim, não poderão ser considerados alguém que tem sabedoria".
"Meus caros amigos, compartilhei com vocês as cinco maneiras de acabar com a raiva". Quando os monges ouviram as palavras de Shariputra, ficaram felizes recebendo-as e pondo-as em prática."

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

"A compaixão por todos os seres"

Tinha ele (o Buda) atingido o último grau de perfeição neste mundo, o estado Nirvânico em que toda a tristeza e todo o sofrimento são deixados para trás, e o ser mergulha na bem-aventurança plena do Ser Universal, quando viu um mosquito a ser devorado por um morcego.
Então, palpitou de misericórdia o seu coração tão nobre e compassivo e, detendo-se, no limiar do Nirvana, refletiu:
“Não, a perfeição final que eu julgara ter alcançado, a universalidade de ser que eu julgara ter alcançado não estão ainda completas. Nem o estarão nunca enquanto houver um único ser – ainda que um simples mosquito – perdido na dor e na ignorância, distante da meta da sua própria perfeição.
Nenhum ser pode alcançar sozinho a salvação e a bem-aventurança; esta só estará imaculada, quanto todos os seres lhe tiverem acedido, recuperando a plena consciência da Unidade do Ser”.
Serenamente, decidiu o Iluminado permanecer em contato com a humanidade, e por meio dela, com as existências de todos os reinos inferiores, para ajudar todos os cansados peregrinos a subir no caminho, em direção à meta suprema. Ele, a quem os deuses e anjos serviam, renunciou ao repouso nirvânico, que tinha merecido conquistar, e escolheu... continuar a servir!

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

"Quem foi Sidharta Gautama?"

Sidharta Gautama foi um príncipe que nasceu no norte da Índia, há mais de 2.500 anos, no reino de Sákya. Após passar sua infância e juventude nos limites de seu palácio, protegido das ameaças do mundo exterior, o jovem Sidharta aventura-se num passeio além dos muros que o cercavam e conhece o sofrimento humano. Primeiro encontra uma pessoa doente, depois uma pessoa idosa, por fim uma pessoa morta, cercada por outras se lamentando. Nesse momento Sidharta toma contato com a realidade de que a vida traz uma série de momentos em que se sofre. No quarto e último encontro, Sidharta vê um monge e chama-lhe a atenção seu aspecto sereno e sua conduta firme, mesmo vivendo em meio a esse mundo que tanto sofrimento oferece.

Sidharta então decide abandonar a vida que levava até então e, deixando o palácio, adentra na floresta, despojado de todos seus bens materiais e rompendo suas ligações familiares, decidido a encontrar uma solução para o problema do sofrimento.

Após alguns anos dedicando-se a práticas ascéticas que o fizeram adoecer, Sidharta descobre que a via do conhecimento está no Caminho do Meio: nem ceder ilimitadamente aos desejos, nem torturar o corpo e a mente.

Abandona as práticas que realizou até então e, firmemente decidido, senta-se sob uma figueira, em meditação, decidido a não levantar dali até que resolvesse a questão da vida e da morte.

Durante sete dias e sete noites Sidharta permaneceu em meditação, até que na manhã do oitavo dia, ao surgir a estrela da manhã, subitamente iluminou-se, despertando para a realidade de todas as coisas. Nesse momento declarou:

“Eu, a grande Terra e todos os seres somos o Caminho.”

A partir de então, tornou-se conhecido por Budha Shakiamuni: Budha, em sânscrito, significa “o desperto” e Shakiamuni significa “o sábio do clã dos Sákias”, referência a seu local de origem.

Por 80 anos Buda Shakiamuni ensinou o Caminho que leva à libertação do sofrimento. Desde então esse ensinamento é passado de mestre a discípulo, chegando até os dias atuais. 

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

"Namastê"



Para aqueles que não conhecem o significado do Namastê eis uma breve explicação seguida de seu significado. 

Namastê é um cumprimento ou saudação falada no Sul da Ásia. Namaskar é considerado uma forma ligeiramente mais formal, mas ambas as expressões expressam um grande sentimento de respeito.
É utilizada principalmente na Índia e no Nepal por hindus, sikhs, jainistas e budistas. Nas culturas indianas e nepalesas, a palavra é dita no início de uma comunicação verbal ou escrita. Contudo, o gesto feito com as mãos dobradas é feito sem ser acompanhado de palavras quando se despede. Na ioga, namastê é algo que se dirá ao instrutor e que, nessa situação, significa “sou o seu humilde criado”.
Literalmente significa "curvo-me perante ti"; a palavra provém do sânscrito namas, "curvar-se", "fazer uma saudação reverencial".
Quando dito a outra pessoa, é normalmente acompanhada de uma ligeira vénia feita com as duas mãos pressionadas juntas, as palmas tocando-se e os dedos apontando para cima, no centro do peito. O gesto também pode ser realizado em silêncio, contendo o mesmo significado. 
SIGNIFICADO: "O deus que habita no meu coração, saúda o deus que habita no seu coração. Mais radiante do que o Sol. Mais puro que a neve. Mais sutil que o éter. Esse é o Ser, o Espírito dentro do coração de cada um de nós. Esse ser sou eu, esse ser é você. Somos todos nós, Está em você, está em tudo." 

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

"Shukyo no Goko - Cinco Princípios de Propagação"

Os cinco princípios de propagação foram estabelecidos por Nitiren Daishonin como base para avaliar os diversos ensinos budistas. 
Estes são: 

1. O Ensino. 
2. A Capacidade. 
3. A Época. 
4. O País. 
5. A Sequência de Propagação.

O Budismo estabelecido há quase três mil anos atrás por Sakyamuni, consiste em mais de 80 mil ensinos. Por esta razão, uma avaliação acurada de cada ensino torna-se um pré-requisito para determinar qual deles é essencial. Não importando qual ensino seja escolhido, há um objetivo único: a busca da iluminação (a mais elevada condição de vida). Mas, as nossas existências são limitadas e não é possível aprender cada um dos 80 mil ensinos, nem é possível praticar todos. Apesar disto, é de extrema importância que todos os ensinos sejam distinguidos e avaliados de forma objetiva para que se possa assegurar uma escolha certa. Este é o motivo dos requisitos estabelecidos por Daishonin e estes são usados como um critério básico para distinguir os diversos ensinos.

Primeiramente, possuir uma correta compreensão dos ensinos significa reconhecer as diferenças entre os diversos ensinos budistas e discernir do ponto de vista filosófico, qual é o profundo e qual é o superficial. Os ensinos são: Mahayana, Hinayana, provisório, verdadeiro, exotérico e esotérico. Isto pode ser comparado ao médico que prescreve o melhor remédio para o paciente através da uma análise minuciosa de cada componente. Tientai, da China e Dengyo, do Japão, proclamaram e provaram que o Sutra de Lótus é o ensino supremo. Nitiren Daishonin revelou as três Grandes Leis Secretas escondidas nas profundezas do Sutra de Lótus. Assim, em qualquer estudo comparativo, seja de cunho religioso ou filosófico, é crucial examinar esta doutrina.

A seguir, é a completa compreensão da capacidade das pessoas. Isto significa a importância em compreender qual é o tipo de ensino que as pessoas estão buscando e posteriormente reconhecer o ensino mais apropriado de acordo com a época. Quando um médico prescreve um remédio para o paciente, este deve ser indicado de acordo com os sintomas apresentados. Por exemplo, um remédio para dor de barriga, não será útil para um paciente com gripe; ou, se o quadro clínico de um paciente for grave, uma medicação fraca será de pouco valor ou inútil. A correta compreensão da capacidade das pessoas significa estudar tantos os aspectos acadêmicos e psicológicos da religião.

O terceiro ítem é a correta compreensão da época, o que significa reconhecer a mudança dos tempos e apreciar as necessidades específicas da época. A história nos mostra que o sucesso depende se a época é claramente compreendida ou não. A medicação de um paciente deve ser prescrita regularmente num determinado período para que seu efeito seja efetivo. Se o paciente ficar curado ou não, irá depender não somente da eficácia do remédio, mas em que período este é ingerido. No mundo atual, orgulhoso do seu progresso científico, a cultura espiritual está em decadência. Por esta razão, muitas pessoas estão buscando o budismo por considerá-lo como um sistema filosófico adequado e efetivo para a época atual.

O quarto princípio é a correta compreensão do país. Isto se refere ao conhecimento do sistema político, estrutura social e composição racial do país envolvido. Isto é, no sentido de se obter uma propagação efetiva os fatores essenciais é fundamental compreender a cultura, história, língua e costumes desta sociedade. Além disso, uma religião superior jamais força uma instituição ou organização específica sobre os seus adeptos.

Por último, há a sequência de propagação. Os ensinos iniciais devem ser compreendidos antes que os ensinos posteriores sejam ensinados. Em outras palavras, os ensinos provisórios devem ser aceitos antes dos ensinos profundos serem expostos. Este processo não pode ser negligenciado, pois caso contrário, a propagação de qualquer religião ou filosofia não pode ser bem sucedida. Agora, aplicando a mesma analogia ao paciente, podemos dizer que se o médico prescrever um remédio sem saber qual foi a medicação prescrita anteriormente, poderá causar efeitos colaterais e em casos extremos, a morte do paciente.


Nos dias de hoje, e existência da humanidade está em perigo: conflitos, contaminação, poluição, assim como o uso indiscriminado dos recursos naturais. Todos estes fatores são sombras que pairam sobre o futuro da humanidade. O Budismo de Nitiren Daishonin ilumina a vida de cada indivíduo com uma filosofia que capacita evidenciar a sabedoria inovadora para desfrutar nossas existências. Esta é a época oportuna para que possamos compreender os cinco princípios da Propagação, e assim agirmos de acordo com as condições externas visando a melhor forma de propagar os ensinos expostos pelo Buda Nitiren Daishonin.

"Jikkai - Os dez estados da vida"

Os Dez Estados da Vida, também conhecidos por Dez Mundos, compõem a base da filosofia de vida elucidada pelo budismo. É uma teoria profunda e prática que esclarece, com simplicidade, as complicadas questões da vida.

1- Estado de InfernoÉ a condição de vida mais baixa entre os demais estados. É um estado de sofrimento constante em que as pessoas não têm forças para influenciar suas circunstâncias de vida, nem esperança com relação ao futuro, não podem fazer nada de que gostariam de fazer, nem mesmo gritar para desabafar suas angústias. Esse incontrolável e inextinguível sofrimento caracteriza o estado de Inferno.
2- Estado de Fome: É caracterizado pela obsessão de realizar os desejos e pela incapacidade de satisfazê-los. Neste baixo estado de vida, as pessoas são completamente controladas e dominadas por seus desejos insaciáveis e por terríveis insatisfações, são infelizes e impedidas de se desenvolverem e prosperarem.
3- Estado de Animalidade: É também um estado baixo de vida em que as pessoas são conduzidas unicamente por seus instintos, agem impulsivamente com irracionalidade e sem moralidade. O critério de suas ações é aproveitar-se dos mais fracos e bajular os mais fortes. As pessoas no estado de Animalidade perdem o sentido da razão, e suas emoções são facilmente dominadas pelo medo e pela covardia. Além disso, não conseguem encontrar soluções nem esperanças e resignam-se diante do destino.
Os estados de Inferno, Fome e Animalidade formam os "Três Maus Caminhos" porque são estados de sofrimento.
4- Estado de Ira: É o quarto mais baixo estado de vida que, associado aos "Três Maus Caminhos", formam as "Quatro Tendências Maléficas". Neste estado, as pessoas possuem consciência de seus atos embora baseados em pontos de vista distorcidos do que é certo ou errado, enquanto no três anteriores não têm controle sobre sua vida pois são dominadas completamente pelos desejos. No estado de Ira, as pessoas preocupam-se única e exclusivamente consigo mesmas, com seus próprios benefícios, pouco se importando com os demais ou com seu ponto de vista. São conduzidas pelo egoísmo e pela ambição de ser superior derrubando outras pessoas.
5- Estado de Tranqüilidade: Esta é uma condição em que a pessoa pode controlar temporariamente seus impulsos e desejos através da razão. Assim, uma pessoa passa a ter uma vida tranqüila e em harmonia com seu meio, que inclui as pessoas e o ambiente. Nesse estado, as energias da vida estão sob considerável controle. Porém, pode cair instantaneamente para os "Três ou Quatro Maus Caminhos" pelo mais leve desvio ocorrido em suas circunstâncias de vida.
6- Estado de Alegria: É uma condição de vida de contentamento que se origina na concretização dos desejos e na solução dos problemas. A alegria nesse estado de vida é efêmera e desaparece com o passar do tempo ou com a transformação das circunstâncias.
Estes seis primeiros estados de vida compõem os "Seis Maus Caminhos". São estados em que as pessoas são arrastadas exclusivamente pelas influências externas, ficando privadas da liberdade de manter autocontrole sobre as circunstâncias de sua vida.
Os próximos quatro estados de vida formam os "Quatro Nobres Caminhos", pois são condições alcançadas pelos esforços desenvolvidos pelas próprias pessoas.
7- Estado de Erudição: É a condição experimentada por uma pessoa quando luta por um estado duradouro de contentamento e estabilidade através da auto-reforma e do desenvolvimento próprio. É o estado em que o indivíduo dedica-se à criação de uma vida melhor através da aquisição de idéias, conhecimentos e experiências de seus predecessores.
8- Estado de Absorção: As pessoas neste estado podem alcançar a percepção parcial de algumas verdades por si mesmas através da observação direta dos fenômenos da natureza.
A Erudição e Absorção compõem os "Dois Veículos" pois conduzem as pessoas para uma certa independência na vida pela percepção obtida da verdade parcial. Contudo, na condição de "Dois Veículos", as pessoas ficam apegadas à percepção para o bem de si mesma e não lutam para beneficiar os outros.
9- Estado de Bodhisattva: Uma pessoa neste estado manifesta uma vida plena de benevolência e sua característica é dedicar-se à felicidade de outras pessoas promovendo ações altruísticas. Esta benevolência difere essencialmente do conceito de caridade ou compaixão, e sua definição exata é "retirar o sofrimento e dar felicidade". A caridade e a compaixão podem aliviar o sofrimento, mas não conseguem retirá-lo nem oferecer a felicidade. A característica maior do estado de Bodhisattva é a busca constante do estado de Buda, ao mesmo tempo em que procura ensinar esse caminho para que as pessoas tornem-se capazes de manifestar a força inerente da vida para conquistarem a felicidade absoluta.

10- Estado de Buda: Constitui-se numa condição de vida em que a pessoa adquire a sabedoria que lhe permite compreender a verdadeira essência de sua vida, manifestar a profunda benevolência para com todas as pessoas e ter a percepção sobre as três existências da vida e sobre a Lei básica do universo. É uma condição de vida no estado de felicidade absoluta que nada pode corromper. Da mesma forma como nenhum estado de vida é estático, o estado de Buda é experimentado no decurso das contínuas atividades altruísticas diárias. Portanto, não se deve considerar o estado de Buda como objetivo máximo a ser alcançado no final da vida.

terça-feira, 18 de novembro de 2014

"A Dama Malvada e o Leiteiro Sábio"

Uma vez, um homem muito rico estava vivendo em Benares, na Índia do Norte. Ele tinha uma filha que era uma das mais belas mulheres na cidade, sua pele era macia como pétalas de rosas, seu corpo era belo como uma flor de lótus, e seus cabelos tão negros como a noite, porém, infortunadamente, sua beleza era somente à flor da pele, porque, por dentro, ela era muito cruel.  Ela insultava seus serventes e até mesmo se deleitava em bater neles. Ela tornou-se conhecida como “ A Dama Malvada”.
Um dia ela desceu ao rio para seu banho, enquanto banhava-se, suas jovens serventes brincavam e espirravam a água. De repente se tornou escuro e uma forte tempestade de chuva caiu sobre elas. A  maioria das serventes e dos guardas correu. As jovens serventes falaram entre si, “Este pode ser o momento ideal para livrar-se da Dama Malvada de uma vez por todas!” Assim eles a abandonaram alí, ao largo. A tempestade tornou-se de mal a pior a medida em que sol se punha.
Quando as jovens serventes chegaram em casa sem a Dama Malvada, o homem rico perguntou-lhes, “Onde está minha preciosa filha?” Elas responderam, “Nós a vimos saindo do rio, mas desde então não a vimos mais. Não sabemos aonde ela foi.” O homem rico mandou seus parentes procurá-la, porém ela não foi encontrada em lugar algum. Nesse meio tempo a Dama Malvada havia sido arrastada correnteza  abaixo pela feroz enchente do rio.
Aconteceu exatamente de existir um santo homem vivendo na floresta próxima ao rio. Nesta área tranqüila ele tinha estado meditando por um longo período, até que chegou a desfrutar a felicidade interna de um elevado estado mental. Por causa desta felicidade, ele sentia-se bastante seguro de que havia deixado para trás os desejos mundanos.
Era mais ou menos  meia-noite quando a Dama Malvada, carregada pela violência das águas do rio, passava pela choupana do santo homem. Ela estava chorando e gritando por socorro. Quando a ouviu, o santo homem compreendeu que uma mulher estava em perigo. Então, ele pegou uma tocha, desceu para o rio, e a viu sendo arrastada ao longo. Ele mergulhou e a salvou, ele a confortou dizendo, “Não se preocupe, eu cuidarei de voce.”
Ele a carregou para dentro de sua choupana e acendeu o fogo para secá-la e aquecê-la e deu-lhe frutas para comer. Quando ela comeu o bastante, ele perguntou, “Onde você  mora? Como você caiu no rio? ” Ela então lhe falou sobre a tempestade e de como suas serventes a desertaram. Ele teve compaixão por ela e a deixou dormir em sua choupana pelas duas noites que se seguiram, enquanto ele próprio dormia ao relento.     
Quando ela recuperou suas forças, ele lhe disse que era tempo dela retornar à casa. Mas ela sabia que ele era o tipo do homem santo que jurou nunca viver com uma mulher como marido e mulher, e que foi por isso que ele dormiu ao relento e a deixou dormir em sua choupana.
E justamente para provar sua própria superioridade sobre ele, a Dama Malvada decidiu seduzi-lo levando-o a quebrar sua promessa religiosa. Ela recusou-se a ir embora enquanto não o induzisse pela astúcia a enamorar-se dela e usou das posturas, truques e bajulações que as mulheres aprendem. O santo homem não foi forte o bastante para resistir ao jeito tentador dela e poucos dias depois foi seduzido e quebrou sua promessa.
Começaram então a viver juntos na calma floresta como se fossem marido e mulher, ele perdeu a felicidade interna que havia adquirido através de anos de meditação.
Porém,  muito rápido a Dama Malvada tornou-se entediada com a vida na floresta pois sentia falta do barulho e da agitação da vida agitada da cidade. Tanto arrulhou, tanto persuadiu, que o convenceu, e eles mudaram-se para uma vila próxima.
De início, o santo homem a manteve com a profissão de leiteiro. Tempos depois, os aldeões chegavam e lhe pediam conselhos e logo entenderam que o fato de ouvi-lo lhes traziam boa sorte. Então começaram a chamá-lo de “Leiteiro Sábio,” e lhe deram uma cabana para morar.
Aconteceu que um dia a vila foi atacada por uma quadrilha de bandidos que roubaram todas as coisas valiosas e seqüestraram alguns dos aldeões, incluindo a Dama Malvada. Quando chegaram aos seus esconderijos na floresta dividiram seus saques e quando começaram a dividir os prisioneiros, o chefe dos bandidos se sentiu atraído pela grande beleza da Dama Malvada e a tomou para si como esposa.
Todos os demais prisioneiros foram logo libertados e quando retornaram à vila o Leiteiro Sábio perguntou o que aconteceu com sua esposa.  Eles disseram que ela fora mantida como esposa pelo bandido chefe. Ele pensou, “Ela nunca será capaz de viver sem mim e irá encontrar um jeito de escapar e vir para mim.”
Entendendo que a vila agora era azarada, todos os outros a deixaram,  mas o Leiteiro Sábio permaneceu em sua cabana, convencido de que sua esposa voltaria.
Eis que, pasmem,  a Dama Malvada adorou a excitada vida dos bandidos! Porém, preocupada que seu marido pudesse vir e levá-la de volta, pensava que poderia então perder todas as suas mais recentes luxúrias, e que seria mais seguro esconder-se dele. Ela pensou, “Vou mandar uma carta para ele, fingindo amá-lo  profundamente  e,  justamente como antes, vou usar meu poder de sedução para levá-lo à ruína só que desta vez ele irá encontrar sua morte e eu continuarei como a rainha do bandido!”
O Leiteiro Sábio acreditou em todas as palavras quando recebeu a  carta. Ele precipitou-se dentro da floresta e correu para o esconderijo da quadrilha de bandidos.  Chamou por ela e quando  apareceu ela lhe disse, “Oh meu senhor e mestre, estou tão feliz de lhe ver, não vejo a hora de escapar daqui consigo, mas agora não é um bom  momento, pois o bandido chefe poderia facilmente nos seguir e matar-nos. Portanto, esperemos até cair a noite.” Ela o levou para dentro, deu-lhe comida e o escondeu num armário.
O chefe dos bandidos estava bêbado quando retornou à noitinha. A Dama Malvada lhe perguntou, “Meu senhor e chefe, o que faria se visse agora o meu ex-esposo?” Ele gabou-se dizendo, “Eu bateria nele e o chutaria de um lado da sala para o outro. Onde está ele agora?” Ela respondeu, “Ele está mais próximo do que você pensa.  Na verdade, ele está aqui mesmo neste armário!”  
O bandido chefe abriu a porta do armário,  arrastou o Leiteiro Sábio e, exatamente como gabara-se, começou a bater e chutá-lo pela sala. Sua pobre vítima não chorou,  apenas resmungava – “Mal-agradecida odiosa. Traidora mentirosa.”
Era tudo o que ele dizia. Finalmente parecia que ele estava aprendendo uma lição – apesar de tão dolorosa!
Por fim, o bandido embriagado cansou-se de bater nele. Amarrou-o,  comeu seu jantar, e caiu na cama para dormir totalmente embriagado.
Na manhã seguinte, após curtir sua bebedeira, o bandido chefe acordou sóbrio e começou novamente a bater e a chutar sua indefesa vítima. Ainda assim o Leiteiro Sábio  não chorava,  mas continuava resmungando – “Mal-agradecida odiosa. Traidora mentirosa.”
O bandido pensou, “Por que este homem continua dizendo a mesma coisa o tempo todo, enquanto eu maltrato ele? E, vendo que sua esposa continuava ainda a dormir, ele perguntou ao Leiteiro Sábio o que significava aquilo. Este então respondeu, “Escute, eu vou lhe dizer. Eu era um santo homem da floresta, desfrutando pacificamente um alto estado de mente, quando uma noite ouvi esta mulher chorando ao estar sendo levada pelo rio por causa da tempestade. Eu salvei sua vida e a trouxe de volta sã e salva. Entrementes ela me seduziu e eu perdi toda minha calma e felicidade interna, fomos morar na vila e passei a levar uma vida muito comum. Então, você a raptou. Ela me mandou uma carta dizendo que  sofria  vivendo com você, e me pedindo para vir resgatá-la. Como você pode ver, ela me atraiu a este desastre me colocando em suas mãos. Por isso eu digo “ Mal-agradecida odiosa. Traidora mentirosa.”
O bandido chefe não era estúpido e pensou, “ Grande provedor este homem era, e mesmo assim ela o colocou nesta difícil situação. O que ela seria capaz de fazer comigo? Melhor seria acabar com ela de uma vez!”
Ele desamarrou o Leiteiro Sábio e o confortou dizendo, “ Não se preocupe, cuidarei de você.” Então ele acordou a Dama Malvada e lhe disse, “Minha querida, vamos matar este homem exatamente perto da sua própria vila.”  Assim, ele os levou à divisa da vila deserta. Pediu a ela para segurar seu ex-esposo e então sacou de sua enorme espada e a abaixou. Mas no último instante ele dividiu a Dama Malvada em duas metades!
Até mesmo alguém malvado como este bandido assassino pode mudar sua maneira de ser. Ele começou por cuidar de seu antigo rival até seu restabelecimento. Após alguns dias de descanso ele perguntou-lhe, “O que você vai fazer agora?”
O sábio homem respondeu, “ Não quero  mais viver como dono de casa. Quero voltar para minha velha floresta e meditar.”
O bandido disse, “ Eu gostaria também de ser ordenado e de aprender a meditar na floresta.” Após desfazer-se de suas mercadorias roubadas, ele foi viver na floresta tendo o  Leiteiro Sábio como seu mestre. Após muitos esforços, os dois alcançaram um alto estado de felicidade interna.

A moral da história é:  A sedução pode ser perigosa para ambos, homem e mulher.

sábado, 15 de novembro de 2014

"Como Praticar Zazen"

Ilustrações da Sôtô-shû

Gasshô

É um expressão de respeito, fé e devoção. Junte as palmas e os dedos de ambas as mãos. Quando as duas mãos (a dualidade) se juntam, representam o Coração-Mente (a não-dualidade)
Shashu

Coloque o polegar de sua mão esquerda no meio da palma, faça um punho diante do peito e cubra com a outra mão, colocando o polegar da mão direita sobre a mão esquerda. Os antebraços fazem uma linha reta, com os ombros um pouco distantes do corpo.
Rin'i-monjin

No seu lugar, faça uma reverência em gasshô e gire no sentido horário.
Taiza-monjin

Novamente, na direção oposta, faça mais uma reverência em gasshô.
Kekka-fuza

Coloque o pé direito sobre a coxa esquerda e o pé esquerdo sobre a coxa direita.
Hanka-fuza

Se você não conseguir se sentar em kekka-fuza, apenas coloque o pé esquerdo sobre a coxa direita.
As costas

Sente-se com as costas eretas, sem se inclinar para a esquerda ou para a direita, nem para frente ou para trás.
Hokkai-jôin

Coloque sua mão direita sobre o pé esquerdo, com a palma voltada para cima, e então coloque as costas da mão esquerda sobre a palma da mão direita. As pontas dos polegares devem se tocar levemente.
Os olhos

Mantenha os olhos entreabertos, voltados para o chão, num ângulo de visão de 45 graus, sem focalizar qualquer ponto.
Kanki-issoku

Exale completamente e inspire. Faça calmamente uma profunda exalação e inalação. Abra levemente a boca e exale, suave e vagarosamente. Para exalar todo o ar dos pulmões, comprima o abdômen. Então feche a boca e inale naturalmente pelas narinas. A língua deve ficar encostada ao céu da boca. Este processo é chamado kanki-issoku.
Sayu-yôshin

Deixe a base da espinha no centro do zafu, a almofada arredondada. Balance o tronco para os lados, diminuindo o ângulo até parar, centralizando a coluna vertebral sobre o zafu.
Kyosaku

Faça um gasshô e, após receber uma leve batida, incline a cabeça para a esquerda. Depois da batida forte, estique a coluna e faça um reverência, com as mãos ainda em gasshô.
Kin'hin

Mantenha as mãos em shashu e caminhe lentamente, dando meio passo a cada respiração.
Kakusoku


Não se concentre sobre qualquer objeto específico, nem tente controlar seus pensamentos. Mantendo a postura e respiração corretas, sua mente se tranqüilizará naturalmente. Quando os vários pensamentos surgirem, não tente agarrá-los ou empurrá-los; deixe-os ir livremente. O mais importante é despertar (kakusoku) da distração e da fixação, da sonolência e do pensamento, retornando à postura correta, momento a momento.
Um sino é tocado como sinal para marcar o início e o fim das sessões de Zazen e Kin'hin:
quando o Zazen começa, o sino é tocado três vezes (shijosho);
quando o Kin'hin começa, o sino é tocado duas vezes (kin'hinsho);
quando o Kin'hin termina, o sino é tocado uma vez (chukaisho);
quando o Zazen é terminado, o sino também é tocado uma vez (hozensho).
Ao final do Zazen, faça uma reverência em gasshô. Balance o corpo levemente para os lados, desdobre as pernas cuidadosamente e se levante, sem movimentos abruptos. Arrume o zafu e deixe o seu assento.
Ao final do Kin'hin, faça uma reverência com as mãos em shashu e caminhe lentamente até o seu assento.
 

terça-feira, 11 de novembro de 2014

"OS OITO SÍMBOLOS AUSPICIOSOS"

O Guarda-sol: O guarda-sol é o símbolo da dignidade real e proteção contra o calor do sol e representa proteção contra o sofrimento.
Dois peixes dourados: Os dois peixes eram originalmente um símbolo do rio Ganges e Yamuna, mas passou a representar a boa sorte em geral, para os hindus, jainistas e budistas. Dentro do budismo também simboliza que os seres vivos que praticam o darma não têm medo de se afogar no oceano de sofrimento, e podem migrar livremente (escolher seu renascimento) como um peixe na água.
A Concha: No budismo, uma concha branca representa o som do darma despertando os seres da ignorância.
A Flor de Lótus: O lótus está enraizado na lama profunda e seu caule cresce através da água turva. Mas a flor se eleva acima da sujeira e se abre ao sol, linda e perfumada. No budismo, o lótus representa a verdadeira natureza dos seres, que se levantam através do Samsara para a beleza e clareza da iluminação. Veja o significado das cores:
Branco: Pureza mental e espiritual
Vermelho: O coração, compaixão e amor
Azul: Sabedoria e controle dos sentidos
Pink: O Buda histórico
Roxo: Misticismo
A Bandeira da Vitória: O estandarte da vitória significa a vitória do Buda sobre o Demônio Mara e sobre o que Mara representa – a paixão, o medo da morte, o orgulho e a luxúria.
O Vaso: O vaso do tesouro está cheio de coisas preciosas e sagradas e, não importa o quanto são retiradas, ficará sempre cheio. Ele simboliza vida longa e prosperidade.
A Roda do Darma: A roda de Darma, também chamado de Dharma-chakra ou Dhamma Chakka, é um dos mais conhecidos símbolos do budismo. A roda tem oito raios e representando o Caminho Óctuplo. Segundo a tradição, a Roda do Darma foi girada pela primeira vez quando o Buda proferiu seu primeiro discurso após sua iluminação.
O Nó Infinito: O nó infinito, com suas linhas fluídas e entrelaçados em um padrão fechado, representa a origem dependente e a inter-relação de todos os fenômenos. Significa também causa e efeito da união de compaixão e sabedoria.

"Sons Inaudíveis"

Um rei mandou seu filho estudar no templo de um grande Mestre, com o objectivo de prepará-lo para ser uma grande pessoa. Quando o príncipe chegou ao templo, o Mestre o mandou sozinho para uma floresta. Ele deveria voltar um ano depois, com a tarefa de descrever todos os sons da floresta. Quando o príncipe retornou ao templo, após um ano, o Mestre lhe pediu para descrever todos os sons que conseguira ouvir. Então disse o príncipe:
- Mestre, pude ouvir o canto dos pássaros, o barulho das folhas, o alvoroço dos beija-flores, a brisa batendo na grama, o zumbido das abelhas, o barulho do vento cortando os céus...
E ao terminar o seu relato, o Mestre pediu que o príncipe retornasse à floresta, para ouvir tudo o mais que fosse possível. Apesar de intrigado, o príncipe obedeceu a ordem do Mestre, pensando:
- Não entendo, eu já distingui todos os sons da floresta...
Por dias e noites ficou sozinho ouvindo, ouvindo, ouvindo... mas não conseguiu distinguir nada de novo além daquilo que havia dito ao Mestre. Porém, certa manhã, começou a distinguir sons vagos, diferentes de tudo o que ouvira antes. E quanto mais prestava atenção, mais claros os sons se tornavam. Uma sensação de encantamento tomou conta do rapaz. Pensou:
- Esses devem ser os sons que o Mestre queria que eu ouvisse...
E sem pressa, ficou ali ouvindo e ouvindo, pacientemente. Queria Ter certeza de que estava no caminho certo. Quando retornou ao templo, o Mestre lhe perguntou o que mais conseguira ouvir.
Paciente e respeitosamente o príncipe disse:
- Mestre, quando prestei atenção pude ouvir o inaudível som das flores se abrindo, o som do sol nascendo e aquecendo a terra e da grama bebendo o orvalho da noite...
O Mestre sorrindo, acenou com a cabeça em sinal de aprovação, e disse:
- Ouvir o inaudível é ter a calma necessária para se tornar uma grande pessoa. Apenas quando se aprende a ouvir o coração das pessoas, seus sentimentos mudos, seus medos não confessados e suas queixas silenciosas, uma pessoa pode inspirar confiança ao seu redor; entender o que está errado e atender às reais necessidades de cada um."

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

"Perguntas vãs"

Um discípulo confuso via que muitas perguntas golpeavam sua mente. Um dia decidiu perguntar a seu mestre sobre a que mais lhe atormentava:
- Mestre, como saberei quando estou realmente no caminho da libertação interior?
- Saberás que estás na senda da libertação interior quando já não faças esse tipo de perguntas - respondeu o mestre.