quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

"O papagaio e o matagal em chamas"


Num matagal, ao pé das montanhas do Himalaia, vivia um papagaio juntamente com muitos outros animais e pássaros. Um dia, um fogo, causado pela fricção de bambus motivada pelos fortes ventos, começou a se alastrar pelo matagal, pondo em alarmada confusão e perigo os pássaros e animais.

O papagaio, sentindo compaixão pelo temor e sofrimento deles e desejando retribuir a bondade que recebeu no bambuzal em que se abrigava, tentou, por todos os meios, salvá-los.

Mergulhava, repetidamente, numa lagoa próxima, voava sobre o fogo e, sacudindo-se, derrubava algumas gotas de água para apagar o fogo. Repetia essa operação diligentemente, com o coração de compaixão e gratidão para com o matagal.

Esta mente de bondade e auto-sacrifício foi observada por um deus que disse ao papagaio : "Você tem uma mente nobre, mas que espera conseguir com umas poucas gotas de água contra este fogo imenso ?"

O papagaio lhe respondeu : "Nada pode ser conseguido sem a mente da gratidão e auto-sacrifício. Tentarei e continuarei a tentar até na próxima vida."

O grande deus ficou impressionado com tamanha determinação do papagaio e, juntos, apagaram o fogo.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

"Quinhentos biscoitos da felicidade"

A interessante história seguinte foi contada pelo Buda em um sermão., foi retratada no Sutra das Cem Parábolas, capítulo 65, por Ananda, seu discípulo mais antigo.

Era uma vez uma esposa que, infeliz com seu marido, havia muito tempo, estava aguardando uma oportunidade para livrar-se dele. Um dia, seu marido foi convidado a realizar um trabalho no reino vizinho (a antiga Índia era um país que possuía muitos reinos), e teria que deixar sua casa para uma longa viagem de negócios. A mulher agora tinha uma oportunidade: ela misturou um pouco de veneno com farinha e junto com outros saborosos ingredientes como mel, gengibre, pimenta, ervas, nozes etc., fez quinhentos "biscoitos da felicidade" .
"Agora você está partindo para uma longa jornada", disse a esposa. "Eu preparei quinhentos "biscoitos da felicidade" para você comer na sua longa viagem de negócios". Uma vez que você tiver saído de nossa cidade, numa terra estranha, você poderá comer os biscoitos se tiver fome".
O marido pegou os biscoitos muito agradecido, sem saber que aquela comida estava envenenada, fora preparada por sua esposa para matá-lo. Logo ele estava fora de sua cidade natal, viajando ao longo de uma grande estrada que cortava o país através de uma imensa floresta. A noite estava caindo e não havia nenhuma casa que pudesse ser vista. Ele decidiu então ficar na floresta selvagem aquela noite. Para evitar os ataques dos animais, ele subiu numa imensa árvore para tentar descansar um pouco. Ele havia esquecido completamente dos quinhentos biscoitos da felicidade e deixou-os juntos aos seus outros pertences no sopé da árvore.
No meio da noite, um bando de rebeldes havia atacado a vizinhança e a tesouraria do reino; pegaram muitas pedras preciosas do palácio, junto com um rebanho de cavalos. Quando eles passavam pela floresta, pararam um pouco para descansar embaixo da imensa árvore, onde o mercador havia ficado. Como eles haviam fugido desesperadamente da perseguição da guarda do rei, estavam muito cansados e famintos.
Assim, quando encontraram os biscoitos envenenados embaixo da árvore, pensaram apenas em satisfazer sua fome comendo a comida.
Pela manhã seguinte, todos os rebeldes foram encontrados mortos. O mercador desceu da árvore e certificou-se de que todos estavam realmente mortos, atravessando os corpos com a espada e a flecha. Ele então pegou as pedras preciosas, colocou-as nos cavalos e dirigiu-se à capital da cidade.
"Eu sou seu criado do reino vizinho", reportou-se ao rei. "A noite passada, quando eu estava viajando pela estrada, eu encontrei um bando de rebeldes vindo do seu reino. Lutei naquela batalha, contra todos eles e os matei. Aqui estão todos os seus cavalos e as pedras preciosas da tesouraria do seu reino".
Depois que o rei enviou um grupo para investigar o que ele havia dito, ficou tão feliz que deu ao mercador estrangeiro uma medalha, um grande prêmio, um pedaço de terra, e um alto posto em seu governo. Os outros oficiais ficaram insatisfeitos, " Porque o rei havia dado um prêmio tão grande a um estrangeiro que poderia ou não, ser digno confiança?
"Tudo bem", respondeu o mercador, " Se vocês companheiros, estão infelizes, eu os desafio a competir comigo em uma disputa. Quem quer ser o primeiro?"
Ninguém se atreveu a aceitar o desafio. Afinal, quem gostaria de lutar com alguém que havia matado um bando de bandidos rebeldes sozinho, sem qualquer ajuda?
Um dia, um feroz leão foi encontrado rondando os vilarejos do reino, matando inúmeras pessoas e animais. Ninguém se atrevia a aventurar-se fora da área rural. Os oficiais sugeriram ao rei, "Aquele estrangeiro descreveu a si próprio como o guerreiro mais valente de todos. Agora você deveria incumbi-lo de matar o leão, pois ninguém mais tem habilidade para isso".
Ao ouvir a sugestão deles, o rei convocou o estrangeiro à Corte Imperial e disse a ele: "Eu vou dar a você a missão de banir o leão de meu reino. Você poderá pegar qualquer arma de nosso exército para fazer o trabalho. Eu estou certo de que você pode fazê-lo."
Após ouvir aquilo, o estrangeiro sentiu o medo da morte em seu coração. Todavia, ele não tinha outra escolha a não ser aceitar a missão. Ele pegou a espada e foi para fora da cidade procurar o leão.
Assim que eles se encontraram, o leão deu um estrondoso rugido e foi de encontro ao estrangeiro. Ele estava tão apavorado que em um salto subiu em uma grande árvore. O leão de uma volta ao redor da árvore e rugiu pavorosamente. O homem aterrorizado entrou em pânico e deixou a espada cair de suas mãos. Mas, um fato aconteceu: a espada caiu direto dentro da boca do leão matando instantaneamente o bicho.
Como a notícia se espalhou ao redor do reino, o estrangeiro foi considerado um grande herói por todos, e foi recompensado ainda com um grande prêmio e uma alta posição na Corte Imperial.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

"Os quatro tipos de pessoas"

“Bhikkhus (monges), há quatro tipos de pessoas que podem ser encontradas no mundo. Quais quatro? Aquela que não pratica nem para o seu próprio benefício e tampouco para o benefício dos outros. Aquela que pratica para o benefício dos outros mas não para o seu próprio benefício. Aquela que pratica para o seu próprio benefício mas não o benefício dos outros. Aquela que pratica para o seu próprio benefício e também para o benefício dos outros.
“Tal como um pedaço de lenha de uma pira funerária, ardendo em ambas pontas e suja de excremento no meio, não pode ser usado como madeira no vilarejo ou na floresta, eu lhes digo que esse é um símile para o indivíduo que não pratica nem para o seu próprio benefício e tampouco para o benefício dos outros. O indivíduo que pratica para o benefício dos outros mas não para o seu próprio benefício é o superior e mais refinado dos dois. O indivíduo que pratica para o seu próprio benefício mas não para o benefício dos outros é o superior e mais refinado dos três. O indivíduo que pratica para o seu próprio benefício e também para o benefício dos outros é, entre os quatro, o principal, o cabeça, o mais destacado, o superior e supremo. Da mesma forma como da vaca se obtém o leite, do leite o creme de leite, do creme de leite a manteiga, da manteiga a manteiga líquida, e da manteiga líquida a nata da manteiga líquida; e desses, a nata da manteiga líquida é considerada o principal – assim também, desses quatro, o indivíduo que pratica para o seu próprio benefício e também para o benefício dos outros é o principal, o cabeça, o mais destacado, o superior e supremo.”


“Essas são os quatro tipos de pessoas que podem ser encontradas no mundo.”

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

"O Rei que deportava seus cidadãos idosos"


Uma história das Escrituras Budistas

Isto é o que eu (ou seja, Ananda) ouvi do ensinamento do Lorde Buda durante um sermão em Sravasti:

Era uma vez um rei que não gostava de cidadãos idosos. Ele achava que as pessoas que se tornavam idosas não eram mais úteis para o seu reino e portanto, um dia, ele decretou que qualquer pessoa acima de 60 anos de idade deveria ser deportada. Qualquer um que o desobedecesse sofreria severas punições e que ninguém se atrevesse a manter seus pais idosos em casa.
Porém, um dos seus mais velhos oficiais, secretamente manteve seu pai num aposento subterrâneo. Todo dia, ele lhe trazia alimento para comer, água para beber e Escrituras Budistas para estudar de modo que ele pudesse passar os últimos dias de sua vida tranqüilamente.
Quando o Imperador Sakra (o Rei do Céu no Budismo) tomou conhecimento desta norma, ele tornou-se muito infeliz com isto e mandou um de seus deuses para ver o Rei. O deus trouxe consigo uma mensagem do Céu para o Rei dizendo: "Estou lhe dando uma lista de problemas para serem solucionados. Você tem que me dar as respostas corretas dentro de um mês. Se você não me der as respostas corretas até o final deste período, o Imperador Sakra destruirá e arrasará com seu Reino!"

Os problemas eram:

Primeiro, o mensageiro do Céu colocou duas cobras em frente ao Palácio e pediu ao Rei para distinguir a cobra masculina da cobra feminina.
Depois, ele deu um elefante ao Rei e pediu para que o Rei o pesasse.
Em seguida ele colocou uma tigela com água pura em frente ao Palácio e pediu ao Rei que encontrasse outra tigela de água mais valiosa do que aquela.
Ele também colocou um pedaço de sândalo em frente à Côrte Imperial e perguntou ao Rei, "onde está a cabeça e onde está o fim deste pedaço de madeira?"
Finalmente, o mensageiro do Céu trouxe consigo um par de cavalos brancos que pareciam exatamente iguais em todos os sentidos. Ao Rei foi pedido para encontrar quem era a mãe entre os dois cavalos.
Dos seus oficiais, nenhum foi hábil a resolver estes problemas. O Rei começou a ficar preocupado e colocou avisos por todo o seu Reino dizendo que qualquer pessoa que aparecesse com as respostas receberia uma recompensa de 20.000 peças de ouro. O tempo estava passando rápido e o final do mês se aproximando. Apesar disso, ninguém teve uma pista para apresentar.
Então, no último dia do mês, o Imperador Sakra apareceu ante o Rei e perguntou, "você já solucionou os problemas?" O Rei, agora aterrorizado, falhou em dar ao Imperador Sakra quaisquer respostas.
Naquele momento, um dos Oficiais da Côrte Imperial deu um passo à frente com seu pai idoso e disse, "Meu pai tem as soluções."
"Tudo bem," respondeu o Imperador Sakra. "Mostre-me como solucionar estes problemas."
Para distinguir a cobra masculina da feminina o velho pai colocou ambas num pedaço de tecido bem macio. Uma das cobras começou a se mostrar incomodada e tentou escapar. "Aquela cobra deve ser a cobra masculina. A cobra quieta deve ser a feminina." disse o velho pai. Problema número um resolvido.
Em seguida, o velho pai levou o elefante para dentro de um barco que estava flutuando num rio alí perto. Imediatamente, o barco afundou um pouco mas depois se estabilizou. Então ele fez uma marca da altura da água no lado do barco e deixou o elefante sair dele. Depois ele colocou pedaços de pedras no barco até que elas atingissem a marca feita anteriormente. Após as pedras terem sido pesadas numa balança, o peso do elefante pôde ser determinado. O problema foi também resolvido.
"Para solucionar o problema da tigela de água é fácil," disse o velho pai ao Imperador Sakra. "Tudo o que tenho a fazer é pegar qualquer outra tigela de água e dá-la a alguma pessoa, tal como um viajante num deserto, para bebê-la. Uma tigela de água, usada para salvar uma vida é mais valiosa do que a tigela de água simplesmente colocada para nada, alí em frente ao Palácio." O problema estava igualmente resolvido.

Para solucionar o problema do pedaço de sândalo, o velho pai o colocou na água. A cabeça, que por si é densa, submergiu na água. A ponta final, que é leve, flutuou sobre a água. Mais uma vez problema resolvido.
Para solucionar o último problema, o velho pai encontrou algum feno de boa qualidade e o colocou entre os dois cavalos brancos. Notaram que um dos cavalos chutou o feno para o outro e o deixou comer primeiro. Ela deve ser a mãe!
O Imperador Sakra ficou muito satisfeito com as respostas. Ele anunciou que iria desculpar o Reino de ser destruído. O Rei humano subitamente tornou-se iluminado e ajoelhou-se ante o Rei dos Deuses dizendo, "Agora eu vejo o que você quer dizer. É minha falta maltratar meus velhos cidadãos. Estou pedindo que perdoe meu pecado e irei trazer de volta meus cidadãos idosos para suas casas."

O Imperador Sakra ficou muito contente e retornou para o Céu.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

"Demônios do Deserto"

Há muito tempo atrás havia dois mercadores que eram amigos. Eles estavam prontos para fazerem uma viagem para venderem suas mercadorias, mas eles tinham que decidir se viajariam juntos ou separados. Enfim concordaram que, já que cada um tinha 500 carroças, e eles iam para o mesmo lugar e usariam a mesma rota, seria muita gente ao mesmo tempo na mesma rota.
Um decidiu que seria melhor ir primeiro. Ele pensou: "A rota não estará tão estragada pelas carroças, os animais poderão escolher a melhor grama e nós encontraremos as melhores frutas e vegetais para comermos, e meu pessoal irá apreciar minha liderança e no final, eu irei ter a oportunidade de conseguir o melhor preço pelas minhas mercadorias.”
O outro mercador considerou com cuidado e pensou que haveriam vantagens em ser o segundo. Ele pensou: "Os carros do meu amigo nivelarão o chão e nós não teremos que consertar buracos da estrada, e os animais dele comerão a velha grama e as viçosas gramas nascerão na primavera para meus animais comerem. Do mesmo jeito, eles pegarão velhas frutas e vegetais para comerem e novas frutas nascerão para nós nos deliciarmos. Eu não precisarei gastar meu tempo com esses detalhes, quando eu posso calcular o preço das mercadorias e calcular meus lucros. Então ele concordou em deixar o amigo ir primeiro. E esse amigo que iria primeiro achou que ia passar ele para trás e pegar o melhor. Então ele preparou-se para a jornada.”
O mercador que saiu primeiro teve muitos problemas. Eles chegaram a um lugar chamado de "Deserto sem água", um local que as pessoas diziam que era assombrado por demônios. Quando a caravana atingiu a metade do caminho, eles se encontraram com um grande grupo que vinha na direção oposta da deles.
Eles tinham as carroças cheias de cumbucas com bastante água e várias flores, que nasciam junto a água em seu poder. O homem responsável por esta caravana tinha uma boa aparência e falou para o mercador: "Por que você está carregando este peso todo de água? Daqui a pouco você encontrará um oásis no horizonte com muita água para beber e muitas frutas e legumes para comer. Seus animais estão muito cansados por carregarem suas carroças cheias de água. - então jogue fora essa água e seja gentil com seus animais visto que estão muito carregados!”
Mesmo com as pessoas do local avisando, sobre o perigo, o mercador não percebeu que essas pessoas não eram pessoas de verdade e sim demônios disfarçados. Eles estavam até em grande perigo podendo ser comidos por eles. Confiando que eram pessoas que queriam ajudar, eles seguiram o conselho e jogaram toda a água que tinham no chão. Continuando a viagem eles não encontravam o oásis e nenhuma água. Muitos do grupo começaram a perceber que foram enganados por aquele grupo que encontraram e que provalvemente eles seriam até demônios, e então começaram a ficar descontentes e acusaram o mercador.
No final do dia todos estavam muito cansados. Os animais estavam fracos precisando de água para continuar puxando as carroças tão pesadas. Todas as pessoas e os animais se deitaram espalhados, de tão cansados, eles dormiram profundamente. Durante a noite, quietos e silenciosos os demônios vieram em suas formas e engoliram toda as pessoas da caravana e os animais sem uma defesa para eles. Quando eles acabaram com o ataque só existiam ossos quebrados ao redor do acampamento, nenhuma pessoa ou animal foi deixado com vida.
Depois de alguns meses, o segundo mercador começou sua jornada na mesma rota. Quando ele chegou à região que não tinha nada, água ou fruta ele avisou para o seu pessoal: "Isto aqui e chamado de "Deserto sem água" e eu escutei que é assombrado por demônios e fantasmas. Portanto sejam bem cautelosos. Aqui deve ter muita planta venenosa e água impura, então não beba nenhuma água sem me perguntar." E assim eles entraram no deserto.
Depois de terem entrado no deserto, no mesmo lugar que a outra caravana parou, eles encontraram os demônios com muita água, Os demônios disseram para eles que o oásis estava perto e que eles jogassem toda a água fora. Mais o esperto mercador viu tudo no primeiro instante. Ele sabia que não fazia sentido um oásis em um lugar que era chamado de "Deserto sem água". E também essas pessoas tinham os olhos grandes e vermelhos e com uma atitude agressiva e persuasiva, ele suspeitou que eles poderiam ser os demônios. Ele falou para eles deixarem eles sozinhos dizendo: "Nos somos homens de negócios que não jogam qualquer boa água fora antes de sabermos onde outra água vira”.
Vendo isso as pessoas que vinham com o mercador tiveram dúvidas e o mercador falou para eles: "Não acreditem nessas pessoas, que talvez sejam demônios, até nós encontrarmos água. O oásis que eles falaram poderá ser talvez uma miragem ou ilusão. Vocês já ouviram falar que tivesse água no "Deserto sem água"? Vocês estão sentindo algum vento de chuva ou estão vendo alguma nuvem? Todos disseram, "Não", e ele continuou, "Se nós acreditamos nesses estranhos e jogamos nossa água fora, então mais tarde nos não teremos água para beber ou cozinhar - então nos estaremos fracos e com sede - e será muito fácil para os demônios virem e nos roubar a todos e inclusive comer a todos nos! Portanto, até nós realmente encontrarmos água, não desperdicem uma só gota!
A caravana continuou sua viagem, e nesta noite eles chegaram ao lugar em que a primeira caravana foi atacada e onde os demônios comeram as pessoas e os animais. Eles acharam as carroças e ossos das pessoas e dos animais em toda a volta. Reconheceram as carroças cheias e sabiam que os ossos espalhados eram das pessoas da primeira caravana, o mercador esperto, falou para as pessoas de sua caravana que permanecessem atentos nesta noite no acampamento.
Na manhã seguinte as pessoas tomaram seu café da manha, alimentaram os animais muito bem. Eles juntaram às suas mercadorias aos melhores produtos de valor da primeira caravana. Então eles terminaram a jornada com muito sucesso, e voltaram para casa salvos, para que, juntos com suas famílias, pudessem desfrutar de seus lucros.

A moral desta estória é: "Uma pessoa deve sempre ser muito esperta para não ser enrolada por truques, palavras e falsa aparências."

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

"Duas maneiras de tocar um tambor"

Era uma vez um baterista que vivia numa pequena vila do campo, e que um dia ouviu dizer que haveria uma feira na cidade de Benares. Decidiu ir até lá e ganhar algum dinheiro tocando seu tambor. Levou seu filho junto para acompanhá-lo quando precisasse tocar música escrita para dois conjuntos de tambores.
Os dois bateristas, pai e filho, foram então para a Feira de Benares e fizeram muito sucesso, todos gostaram da forma como eles tocavam e lhes pagaram generosamente, quando a feira acabou eles começaram sua viagem de volta para a pequena vila onde moravam.
No caminho eles tiveram de atravessar uma escura floresta, que era muito perigosa por causa dos assaltantes que roubavam os viajantes, o filho baterista, querendo proteger seu pai e a si próprio dos assaltantes, resolveu tocar seu tambor o mais alto possível, sem parar. "Quanto mais barulho, melhor!", ele pensou.
O pai baterista chamou seu filho a parte, e lhe explicou que quando um grande número de pessoas passa, especialmente uma procissão real, eles tinham o hábito de tocar os tambores. Faziam isto em intervalos regulares, de uma forma muito digna, sem temer ninguém. Poderiam fazer rufar os tambores, permanecer em silêncio, depois tocar novamente com um floreado, e assim por diante. Falou a seu filho para assim proceder, de modo que os assaltantes pensassem que havia um poderoso senhor passando por ali.
Porém o filho ignorou o conselho do pai. Ele achava que sabia mais. "Quanto mais barulho, melhor!", ele pensou.
Enquanto isto, uma gang de assaltantes ouviu o tocar do tambor do garoto, a princípio, eles pensaram se tratar de um poderoso e rico homem se aproximando com seus fortes seguranças, contudo continuaram a ouvir o som do tambor num estilo agressivo, sem parar. Então entenderam que aquilo soava meio desvairado, como um pequeno cachorro amedrontado latindo para um grande cachorro calmo.
Então, foram investigar e encontraram apenas um pai e seu filho. Bateram neles, roubaram todo o seu dinheiro arduamente ganho, e escaparam dentro da floresta.

Moral da história: O exagero conduz à ruína

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

"Uma vida inútil?"


Um bondoso fazendeiro tornou-se velho demais para poder trabalhar nos campos. Assim ele passava seus dias apenas sentado na varanda, feliz em observar a natureza. Seu filho era uma pessoa insensível e ambiciosa que não gostava de dar duro. Mas, ainda trabalhando na fazenda, podia observar seu pai de vez em quando ao longe.
"Ele é inútil," o filho falou para si mesmo, agastado, "ele não faz nada!"
Um dia o filho ficou tão frustado por ver seu pai numa vida que ele considerava absurda, que construiu um caixão de madeira, arrastou-o até a varanda e disse insensivelmente para o seu pai entrar nele. Sem dizer uma palavra, o pai deitou-se no caixão. Após fechar a tampa, o filho arrastou o caixão até as fronteiras da fazenda onde existia um grande abismo. Quando ele se aproximou da beira, ouviu uma suave batida na tampa, de dentro do caixão. Ele abriu-o. Ainda deitado lá pacificamente, o pai olhou para seu filho.
"Sei que você vai lançar-me no abismo, mas antes de fazer isso posso lhe sugerir uma coisa?"
"O que é?" disse o filho, confuso e algo constrangido por ver seu pai tão calmo.
"Lance-me ao abismo, se quiser," disse o pai, "mas salve este bom caixão de madeira. Seus filhos podem querer usá-lo um dia com você..."

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

"Impermanência"

Um famoso mestre Zen aproximou-se do portão principal do palácio do Imperador. Nenhum dos guardas tentou pará-lo, constrangidos, enquanto ele entrou e dirigiu-se aonde o Imperador estava, solenemente sentado em seu trono.
"O que vós desejais?" perguntou o governante, imediatamente reconhecendo o visitante.
"Eu gostaria de um lugar para dormir aqui nesta hospedaria," replicou o mestre.
"Mas aqui não é uma hospedaria, bom homem",disse o Imperador, divertido, "Este é o meu palácio."
"Posso lhe perguntar a quem pertenceu este palácio antes de vós?" perguntou o mestre.
"Meu pai. Ele está morto."
"E a quem pertenceu antes dele?"
"Meu avô," disse, já bastante intrigado, "Mas ele também está morto."
"Sendo este um lugar onde pessoas vivem por um curto espaço de tempo e então partem - vós me dizeis que tal lugar não é uma hospedaria?"

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

"O Medo da Morte"

Um dia, Um velho foi visitar mestre Ryokan e disse-lhe:
- Eu quisera pedir-vos que fizésseis um kito [Cerimonia para cumprimento de uma promessa] em minha intenção. Assisti à morte de muita gente ao meu redor. E também deverei morrer um dia. Portanto, por favor, fazei um kito para eu viver por muito tempo.
- De acordo. Fazer um kito para viver muito tempo não é difícil. Quantos anos tendes?
- Apenas oitenta.
- Ainda sois jovem. Diz um provérbio japonês que até os cinqüenta anos somos como crianças e que, entre os setenta e os oitenta, precisamos amar.
- Concordo, fazei-me então um bom kito!
- Até que idade quereis viver?
- Para mim, acho que basta-me viver até os cem.
- Vosso desejo, na verdade, não é muito grande. Para chegar aos cem anos, só vos resta viver mais vinte. Não é um período tão longo assim. E sendo o meu kito muito exato, morrereis exatamente aos cem anos.
O velho ficou com medo:
- Não, não! Fazei que eu viva cento e cinqüenta anos!
- Atualmente, tendo atingido os oitenta, já viveste mais da metade do prazo que desejais. A escalada de uma montanha exige grande soma de esforços e tempo, mas a descida é rápida. A partir de agora, vossos derradeiros setenta anos passarão como um sonho.
- Nesse caso, dai-me até trezentos anos!
Ryokan respondeu:
- Como o vosso desejo é pequeno! Somente trezentos anos! Diz um provérbio antigo que os grous vivem mais de mil anos e as tartarugas dez mil. Se animais podem viver tanto assim, como é que vós, um homem , desejais viver apenas trezentos anos!
- Tudo isso é muito difícil...- tornou o velho, confuso. - Para quantos anos de vida podeis fazer-me um kito?
- Quer dizer, então, que não quereis morrer! Eis aí uma atitude de todo em todo egoísta... - replicou o mestre.
- Bem, tem razão....- respondeu o ancião, constrangido.
- Assim sendo, o melhor é fazer um kito para não morrer.
- Sim, é claro! E pode ser? Esse é o kito que eu quero! - o velho animou-se bastante.
- É muito caro, muito, muito caro, e leva muito tempo...
- Não faz mal. - concordou o velho.
Ajuntou, então, Ryokan:
- Começaremos hoje cantando apenas o Makka Hannya Shingyo; a seguir, todos os dias, vireis fazer zazen no templo. Pronunciarei, então, conferências em vossa intenção.
Dessa maneira, de uma forma suave e indireta, Ryokan fez o velho homem deixar de se preocupar com o dia de sua morte e o conduziu ao Dharma.

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

"O Tesouro em Casa"

Um dia, um jovem chamado Yang Fu deixou sua família e lar para ir a Sze-Chuan visitar o Bodhisattva Wu-Ji. Ele sonhou que junto àquele mestre poderia encontrar um grande tesouro de sabedoria. Quando já se encontrava às portas da cidade, após uma longa viajem cheia de aventuras, encontrou um velho senhor. 
Este lhe perguntou:
"Onde vais, jovem?"
"Vou estudar com Wu-Ji, o Bodhisattva." - respondeu o rapaz.
"Em vez de buscar um Bodhisattva, é mais maravilhoso encontrar Buddha."
Excitado com a perspectiva de encontrar o Grande Mestre, disse Yang Fu:
"Oh! Sabes onde encontrá-lo?!"
"Voltes para casa agora mesmo. Quando lá chegares, encontrarás uma pessoa usando uma manta e chinelos trocados, que lhe cumprimentará. Essa pessoa é o Buddha."
O rapaz pensou, aterrado: "Como posso retornar agora, quando estou às portas do meu objetivo? Eu teria que confiar muito no que este simples velho me diz". 
Então Yang Fu teve uma forte intuição de que aquele simples homem à sua frente era alguém de grande sabedoria. Num impulso, voltou-se para a estrada, sem jamais ter encontrado Wu-Ji. Ele retornou o mais rápido que pode, ansioso pela vontade de encontrar Buddha. 
Chegou em casa tarde da noite, e sua amorosa mãe, em meio à alegria e pressa de abraçar o filho que retornava ao lar, cobriu-se de uma manta usada e calçou seus chinelos trocados.
Olhando para sua mãe desse modo, que vinha sorrindo e pronta a abraçá-lo, Yang Fu atingiu o Satori. Este era o maior tesouro.

domingo, 11 de janeiro de 2015

"Raiva"


A raiva, o ódio e a aversão precisam de um objeto para se manifestar, assim como o fogo precisa de madeira para inflamar. Quando deparar com condições adversas, seres que o provocam ou tentam prejudicá-lo, utilize a força da paciência para não se deixar levar por emoções "negativas". A paciência é uma força que resulta de sua capacidade de permanecer firme e inabalável, quaisquer que sejam as circunstâncias. 
Se você recorrer a ela, nada nem ninguém poderá perturbar sua paz de espírito.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

"O Tesouro Oculto, o Covarde, o Corajoso e o Ganancioso"


Um homem que vivia perto de um cemitério, uma noite, ouviu uma voz que o chamava de uma sepultura. Sendo covarde demais para, sozinho, investigar o que se passava, confiou o ocorrido a um corajoso amigo que, após estudar o local de onde saíra a voz, resolveu vir, à noite, para ver o que aconteceria.

Anoiteceu. Enquanto o covarde tremulava de medo, seu amigo foi ao cemitério e ouviu a mesma voz saindo de uma sepultura. O amigo perguntou à voz quem era e o que desejava. A voz, vinda de baixo, respondeu:
"Sou um tesouro oculto e decidi dar-me a alguém. Eu me ofereci a um homem ontem à noite, mas ele era tão medroso que não veio me buscar; por isso dou-me a você que é merecedor. Amanhã de manhã, irei à sua casa com meus sete seguidores."
O homem corajoso disse: "Estarei esperando por vocês, mas, por favor, diga-me como devo tratá-los."
A voz replicou: "Iremos vestidos de monge. Tenha uma sala pronta para nós, com água; lave o seu corpo, limpe a sala e tenha oito cadeiras e oito tigelas de sopa para nós. Após a refeição, você deverá conduzir a cada um de nós a um quarto fechado, no qual nos transformaremos em potes cheios de ouro."

Na manhã seguinte, o homem lavou o corpo e limpou a sala, como lhe fora ordenado, e ficou à espera dos oito monges. À hora aprazada, eles apareceram, sendo cortesmente recebidos pelo homem. Depois que tomaram a sopa, ele os conduziu um por um ao quarto fechado, onde cada monge se transformou em um pote cheio de ouro.

Um homem muito ganancioso que vivia naquela mesma aldeia, ao tomar conhecimento do incidente, desejou ter os potes de ouro. Para tanto, convidou oito monges para virem até sua casa. Depois que eles tomaram a refeição, o ganancioso, esperando obter o almejado tesouro, conduziu-os a um quarto fechado. Entretanto, ao invés de se transformarem em potes de ouro, os monges se enfureceram e denunciaram o ganancioso à polícia que o prendeu.

Quanto ao covarde, quando ouviu que a voz da sepultura havia trazido riqueza ao seu corajoso amigo, foi até a casa dele e avidamente lhe pediu o ouro, insistindo que era seu, porque a voz foi dirigida primeiramente a ele. Quando o medroso tentou pegar os potes, neles encontrou apenas cobras, erguendo as cabeças prontas para atacá-lo.

O rei, tomando conhecimento desse fato, determinou que os potes pertenciam ao homem corajoso, e proferiu a seguinte observação:

"Assim se passa com tudo neste mundo. Os tolos cobiçam apenas os bons resultados, mas são covardes demais para procurá-los, e por isso, estão continuamente falhando. Não têm fé, nem coragem para enfrentar as intestinas lutas da mente, com as quais, exclusivamente, pode-se atingir a verdadeira paz e harmonia".